quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Criopreservação das células estaminais: sim ou não?

Há dois anos, estava eu grávida da Mel e nem sequer me passava pela cabeça ter este blog, decidimos fazer a criopreservação das células estaminais. Procurámos informação na internet, conversei com a minha obstetra sobre o assunto e falámos com várias empresas. Não é algo que se decida de ânimo leve porque o investimento financeiro é grande mas, no final, optámos por fazê-lo. E não nos arrependemos.

Dois anos depois, queremos voltar a criopreservar as células estaminais. Hoje em dia já há mais informação sobre o assunto e é um tema que acaba por chegar facilmente aos ouvidos dos pais durante o período de gestação. No entanto, ainda suscita muitas dúvidas: a criopreservação resulta sempre? Pode realmente ajudar os nossos filhos? E outros familiares? 

Desta vez decidimos que queríamos conhecer bem de perto todo o processo e por isso fomos visitar os laboratórios da Bebé Vida. Só a Bebé Vida e a Crioestaminal têm laboratórios próprios em Portugal: a Crioestaminal foi a empresa pioneira no nosso país e logo no ano seguinte a Bebé Vida iniciou a sua atividade, tendo ambas montado os seus laboratórios em 2006. Ter a oportunidade de fazer uma visita guiada ao laboratório e conhecer passo a passo o processo de criopreservação foi muito esclarecedor. Aprendemos coisas que não sabiamos e que não nos tinham dito há dois anos atrás. 


Decidimos escolher a Bebé Vida para criopreservar as células estaminais deste nosso bebé por diversas razões. Em primeiro lugar, responderam a todas as nossas questões de forma franca e aberta (eu levei uma boa lista de perguntas e só saí de lá quando fiquei bem esclarecida). Explicaram todos os benefícios que podiam resultar da criopreservação mas também não fugiram com o rabo à seringa no que toca às limitações e foram realmente sinceros. Uma das coisas que me agradou bastante foi terem um tanque de back up (que não é um requisito obrigatório, têm-no por opção), caso haja alguma avaria com os tanques que contém as amostras. Outro dado importante é o facto de a Bebé Vida ser a única empresa portuguesa a ter o selo da Fact Netcord, a acreditação internacional mais importante e completa que um laboratório de criopreservação de células estaminais pode receber (estiveram anos a ser acompanhados e "controlados" por responsáveis da entidade para merecerem o reconhecimento). 


O laboratório está aberto sete dias por semana (porque os bebés não tiram folga para nascer) e as amostras são processadas até 72h depois da recolha. O facto de terem laboratório próprio permite que os pais possam tratar tudo diretamente eles, sem haver mais entidades que possam diluir responsabilidades. Nem a Bebé Vida nem nenhum outro banco consegue garantir uma criopreservação bem sucedida. Pura e simplesmente não depende deles, uma vez que a amostra pode estar comprometida. O que gostei muito nesta empresa é o facto de os pais só fazerem o pagamento depois de ser confirmada a viabilidade das amostras! 

Uma das questões que lhes coloquei (e que preocupa outros pais) foi o perigo de falência da empresa. Foram muito pragmáticos na resposta. É um risco que efetivamente existe mas têm formas de o mitigar, através de acordos que mantêm com bancos de back up no estrangeiro. Caso a empresa suspenda a sua atividade, essa entidade assume o armazenamento das amostras e o processo contratual com os pais. Neste caso, a Bebé Vida tem acordo com a FamiCord (um dos maiores bancos europeus), que contém laboratórios em vários países - o mais próximo em Espanha. 


E as células podem sempre ser usadas no próprio? E em familiares diretos? Bem, quando a pessoa têm uma doença oncológica e de origem genética, as células estaminais não resultam no próprio (a informação já lá está e as células já têm a disfunção). Se for uma doença adquirida em vida, aí sim podem ser utilizadas para o tratamento. Já entre irmãos a compatibilidade é de 25% e pode ser usada entre os dois, uma vez que o que está doente pode recorrer às células do irmão, saudável, para reconstituir o seu sistema imunitário. É isso que tentamos garantir ao criopreservar as células da Mel e, agora, deste bebé. 

Dentro deste tema da criopreservação, existe também a doação das células estaminais ao banco público. Neste caso, todo o processo é completamente gratuito e as amostras ficam disponíveis para qualquer pessoa que necessite de tratamento. Não há cá "reservas" para os nossos. Caso haja necessidade no futuro, poderemos recorrer às células que doámos se estas ainda estiverem disponíveis mas, em termos estatísticos, a probabilidade de existirem dadores compatíveis é de 0,0...%. Isto porque o banco público em Portugal ainda não funciona como muitos de nós gostaríamos. Mesmo os pontos de recolha para o banco público funcionam atualmente apenas em quatro hospitais a nível nacional (o Hospital onde vou ter o bebé, apesar de ser público, não faz a recolha). Face a toda esta realidade, optámos por fazer a criopreservação privada e garantir assim que temos as células dos nossos filhos guardadas, durante 25 anos. É um investimento que esperamos sinceramente que não tenha retorno, pois nenhum pai ou mãe quer ver-se na situação de precisar de recorrer às células criopreservadas. 

O que aconselho a todos futuros pais é que se informem muito bem sobre este tema. Façam perguntas, muitas!, às entidades competentes e tirem todas as vossas dúvidas. Se tiverem a oportunidade, vão visitar um laboratório e façam uma visita guiada - é gratuito! Tenho a certeza que cada um tomará a melhor decisão para a sua família, tal como nós o fizemos. 

Rita 




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