domingo, 5 de fevereiro de 2017

O Parto (continuação)

Já tínhamos decidido que ia ter o bebé no hospital público, e então lá fomos. No caminho liguei à minha irmã porque tínhamos estado a falar por mensagens até tarde e sabia que iria estar acordada. Contei-lhe a novidade meia a gritar ao telefone. 
Chegámos ao hospital e eu continuava a deixar um rasto de líquido amniótico por onde quer que passasse. Por mais estúpido que possa parecer agora, essa era a minha principal preocupação na altura. Virava-me para o Mr. Right toda preocupada “Alguém vai ter que limpar isto tudo, já viste?”. Lá me chamaram para ser examinada e foi então que percebi que tinha que ficar já internada e que ele não podia ficar comigo. Despedi-me dele. Ia ficar sozinha até ir para a Sala de Partos. De repente o meu coração ficou mais apertadinho e só queria que esse momento chegasse rápido para poder voltar a dar-lhe a mão e senti-lo ao meu lado. Não ia conseguir fazer aquilo sozinha. 
Depois de ser observada disseram-me que apesar de me terem rebentado as águas ainda não tinha entrado em trabalho de parto. Ainda estava nos inícios da dilatação e podia ser um processo demorado. Fui para o quarto e começaram a dar-me comprimidos para induzir o parto. De x em x tempo lá vinha a enfermeira examinar-me (o famoso toque que mais parece que te estão a arrancar as tripas fora tal são as dores) e dar-me mais um comprimido. Não conseguia estar parada. Ora ia para cima da bola fazer exercício, ora ia caminhar, ora ia tomar um banho. Lá chegaram as amigas contrações, essas vacas. Peço desculpa, mas não há outro nome para elas. O tempo passava, as dores eram cada vez mais fortes mas a dilatação não aumentava. As horas iam passando, as enfermeiras iam trocando turnos e eu já era mais conhecida que o tremoço. Lá entrava a enfermeira no quarto "Ainda cá está?" (Acho que já andavam nas apostas).
Sempre referi, ao longo da minha gravidez, que gostava de ter um parto natural, mas depois de tantas horas e tantas dores, quando finalmente me disseram que podia tomar a anestesia epidural, não hesitei! Estava cheia de dores, num quarto de hospital, sozinha, sem poder ver o meu namorado e só queria que aquilo terminasse. Cheguei ao hospital às 6h e tal da manhã de domingo e tomei a epidural nesse domingo às 23h55 (18 horinhas depois). Sim, lembro-me da hora porque era para o relógio para onde estava a olhar e a agradecer aos céus enquanto me espetavam uma agulha na lombar! Se a epidural doi? Sentem-se os chamados vidrinhos sim mas, amigas, comparado com as dores das contrações são "peaners" , como diria o Jorge Jesus! 
Passaram uns minutos e tudo mudou. As dores desapareceram. Parecia um milagre! O Mr. Right entrou na sala de partos e só me apetecia chorar de felicidade. Depois de tantas horas já não tinha dores e tinha-o ao meu lado. Agora sim ia ter força para trazer o nosso bebé ao mundo. Eu estava estourada e ele morto de sono, por andar casa-hospital-casa, então fomos tentar dormir. Bom, eu tentei, ele dormiu. A minha última noite enquanto grávida foi passada a ouvi-lo ressonar no cadeirão, ao mesmo tempo que ouvia outras mulheres a parir nas salas ao lado. “Está a ser uma noite complicada” disse eu à enfermeira quando esta entrou na minha sala de partos. “Por aqui também não está fácil” respondeu ela a olhar para o Mr. Right a ressonar. Mas eu não me importava. Estava demasiado ansiosa para dormir. Ao ouvir aquelas mulheres, que não conhecia de lado nenhum, só pensava na força que nós temos e do que somos capazes. Na força da natureza humana. Depois dos gritos da mãe, vinha o choro do bebé. E lá estava eu a chorar. E o outro sempre a dormir. 
Dia seguinte e nada. “Ainda não tem dilatação suficiente” diziam as enfermeiras. As dores começaram a voltar. A Médica Anestesista voltou para me dar outra dose mas avisou-me que seria mais pequena que a primeira vez. Torci o nariz mas lá me senti um bocado aliviada. As horas passavam e as dores eram cada vez mais fores. Como no dia anterior. Ou piores. Não podiam fazer mais nada, não podiam dar-me mais nada, ou eu não ia ter forças para puxar. Nããããão. As contrações eram mais fortes. Posso ter uma cesariana? POR FAVOR?

Senti cada contração, cada fisgada de dor. Não foi bonito. O Mr. Right que o diga, coitado. Ia-me refrescando a cara com compressas com água. “TIRA-ME ISSO!”. Lá tirava ele. Passado um minuto, “DÁ-ME ÁGUA!”. Lá punha ele outra vez. Descarreguei nele, sim. Não é para isso que os homens são autorizados a assistir aos partos?! E claro que cometeu o erro mais crasso de todos. O erro do “está quase”. Tinha sido avisado nas aulas de preparação para o parto mas mesmo assim saiu-se com essa. “MAS ESTÁ QUASE O QUÊ, CALA-TE, QUERES VIR TU PARA AQUI?!". Mais dores. Estava numa fase em que só queria que aquilo terminasse. Podemos cancelar isto e continuo grávida para sempre? Gritei, gritei muito. E não tenho problema nenhum em admitir. Chegou a hora. “Já se vê a cabeça!”. “GRAÇAS-A-DEUS”. Não ia ser assim tão fácil. O bebé não ia conseguir passar, iam ter que usar a ventosa. Entre muitos puxos, gritos e forças, às 18h37 a médica gritou “É uma menina!”. Uma menina! Sim, porque nós optámos pelo efeito surpresa e não quisemos saber o sexo do bebé até ao parto. A nossa Mel tinha nascido e era a bebé mais bonita do mundo. Estava tão, tão feliz. Olhei para o Mr. Right com o coração a transbordar de amor. Ele devolveu-me um olhar pálido, muito pálido e disse “Acho que agora preciso de ir fumar um cigarro”.

Rita




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6 comentários:

  1. Foi complicado. Mas no fim correu bem e é o que interessa :). Também quando engravidar não queremos saber o sexo, mas há quem diga (marido :p) que não vou aguentar 9 meses sem o saber lool.

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    1. É um bocado cliché mas é mesmo verdade, depois de nascer já não queremos saber de mais nada. O nosso bebé vale todos os esforços :) a sério? Oh Eu acho o máximo! Nós tivemos a família e os amigos à perna durante toda a gravidez, mas aguentámos bem sem saber porque não tínhamos preferência e gostámos da ideia do efeito surpresa :) fomos comprando roupinhas de todas as cores (amarelas, brancas, vermelhas, azuis, verdes) e o quarto também foi decorado nessa base (nós não somos muito fãs do padrão tudo rosa para menina e azul para menino). Com o evoluir da gravidez vão vendo, se não der mais para resistir, numa consulta seguinte resolvem o mistério :)

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  2. Isso da epidural na cervical é novidade não???!! Lol

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    1. Ahahahaha! A emoção ainda é tanta que me troco toda!
      Mas bem que na hora me podiam ter dado na cervical, na lombar, eu queria anestesias por todo o lado!

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  3. Que bom que foi tão rápido, espero que da próxima vez também seja assim!
    Eheheh acredito, no nosso caso quem morreu de curiosidade foi a família mas nós conseguimos aguentar até ao final sem saber :)

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  4. Ainda hoje choro com este relato :')

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