quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O parto do Marco

3 de Setembro de 2018

Estava cansada. Perto do final da gravidez, com a barriga a pesar e depois de muitas noites sozinha em casa com a Mel, estava cansada. O Mr. Right estava a trabalhar nessa noite e eu pedi aos meus cunhados para ficarem com a Mel, para tirar uma noite de "folga". O bebé nascia dentro de uma semana por isso calculei que essa seria a minha última noite sozinha em casa. Aproveitei o tempo para relaxar ao máximo. Tomei um bom banho de imersão, encomendei uma pizza e vi um filme. O Mr. Right chegou e, pouco depois, fomos dormir. 

4 de Setembro de 2018

Acordei precisamente no momento em que as águas me rebentaram e pensei "f*dasse". Outra vez não. Olhei para o telemóvel e senti um arrepio. Eram 5h30. Precisamente a mesma hora a que me rebentaram as águas dois anos antes. Precisamente no mesmo dia. How creepy is that? Chamei o Mr. Right e disse-lhe que me tinham rebentado as águas. Ele começou-se a rir, eu só queria chorar. Não queria nada, nada um parto induzido outra vez. Ele tranquilizou-me, disse-me que não havia dois partos iguais, e que o segundo costuma ser mais rápido. Lá assenti e fui fazer a mala da maternidade - que tal como da primeira vez não estava feita - enquanto alagava a casa. Estava cheia de adrenalina. A caminho do hospital enviei mensagem para a família. 

Cheguei ao hospital e fui atendida na triagem pela mesma enfermeira trombuda que me viu dois anos antes. Dejá vu. Partilhei com ela esse facto, entusiasmada, e ela respondeu-me um "que engraçado" em tons de "estou-me a cagar". Fui vista pelo médico e confirmava-se. Tinham-me rebentado as águas mas não tinha entrado em trabalho de parto. Fui para o CTG e depois chegou o momento que mais receava: tive que despedir-me do Mr. Right. Tive o Marco no Hospital público de Gaia, tal como a Mel, e não tenho nada a apontar excepto o facto de não podermos estar acompanhadas na sala das expectantes - ou seja, desde que damos entrada no hopital até irmos para a sala de partos. Pode ser uma longa e solitária caminhada. Para mim foi, das duas vezes. 

Subi para o meu quarto, arrumei as coisas e esperei. A minha obstetra estava a fazer urgência no hospital e foi ver-me. Disse que me iam induzir o parto, tal como quando foi com a Mel. Naquele momento só pensava que não ia conseguir estar com a Mel no dia de anos dela, no dia seguinte, porque iria estar internada com o bebé. Que não ia conseguir fazer o bolo para ela levar para a escolinha. Chorei. Estava triste, ansiosa e com medo. Esperei, esperei e desesperei. Dei entrada nas urgências às 6h30, subi para o quarto por volta das 8h e depois do almoço ainda não tinham começado a indução. Mas estavam à espera do quê, afinal? Questionei uma enfermeira, que me explicou que o médico estava a tentar perceber se as coisas iriam fluir de forma natural, uma vez que era o segundo parto. Nop, não ia acontecer. 

Deram-me o primeiro comprimido já a tarde ia a meio. Entretanto a Mel ia passar a noite a casa dos padrinhos, para o Mr. Right estar livre para vir ter comigo quando fosse a hora, e pus-me a fazer a lista do que ela precisava de levar. Liguei à minha mãe e pedi para ela fazer o bolo da escolinha da Mel; liguei à cakedesigner e avisei que iamos adiar a festa de aniversário, e que só íamos buscar o bolo no fim de semana; e ainda publiquei uns anúncios de emprego para a empresa para a qual trabalho. Nisto as contrações começaram a chegar. A cada comprimido que tomava tornavam-se mais fortes, mas nada de dilatação. Exatamente como quando foi com a Mel. Estava a ver a história a repetir-se e estava super frustrada. Caminhei muito, tomei longos banhos quentes, saltei na bola de pilates. Sentia-me sozinha. É mesmo uma merda não podermos estar acompanhadas numa fase tão frágil e decisiva para nós. Ainda bem que em tantos outros hospitais não funciona assim. Passei a noite com dores e desanimava de cada vez que vinham fazer-me o toque e diziam que a dilatação não estava muito avançada. Já só sonhava com a epidural. 

5 de Setembro de 2018

A minha médica veio ver-me e eu fui-me abaixo. Desatei a chorar. Não era suposto estar a acontecer tudo outra vez, não queria passar novamente por um parto induzido e lento. Era o dia de anos da minha filha e eu ali, sozinha, cheia de dores e sem saber quando aquele bebé poderia nascer. Já só pensava que aquilo iria acabar numa cesariana. Não sei ao certo se foi o que se passou mas acredito que a minha médica tenha falado com a equipa para acelerar o processo porque, pouco depois da nossa conversa, uma equipa de médicos veio falar comigo e disse-me que ia para a sala de partos. Iam dar-me a epidural e fazer uma nova indução - intravenosa. Até vi estrelas. 

Era meio-dia quando me deram a epidural. Já sabia ao que ia e mal a anestesista entrou, sorri para ela como se fosse uma grande amiga minha. Senti uma picada e uma sensação de "vidrinhos" a correr pela espinha. Peanuts, comparado com as dores das contrações. O Mr. Right entrou na sala de partos pouco depois. Finalmente ele estava ali, comigo. De repente ficou tudo bem. A anestesista disse-me que se precisasse de mais era só chamá-la e eu pensei mesmo que se poderia tornar uma grande amiga (lol). As dores passaram. Consegui conversar, rir e finalmente descontrair um bocadinho. Perguntei pela Mel, estava na escolinha. A minha mãe tinha feito o bolo de aniversário, estava tudo bem. 

Passado uns quinze, vinte minutos as contrações voltaram e eram cada vez mais fortes. Chamei a enfermeira que por sua vez chamou a anestesista. Deu-me mais uma dose. Aliviou-me. Passado uns minutos começo a sentir umas dores horríveis abaixo da vesícula. Gritei pela enfermeira, perguntei-lhe o que se passava. Ela examinou-me e disse-me que era o bebé a posicionar-se para o parto. Estava a fazer pressão e não havia epidural que me pudesse tirar aquelas dores. F*dasse. Como assim vou aguentar isto até a criança nascer? O que me valeu foi que as coisas foram mais rápidas desta vez, muito provavelmente por causa da segunda indução. De repente já tinha seis dedos de dilatação, sete... estava cada vez mais perto. Lembro-me quando comecei a ter vontade de puxar. Também me lembro de estar muito cansada. As contrações eram muito frequentes e fortes mas eu chegava a adormecer entre elas. Fechava os olhos e passava pelas brasas durante segundos para depois fazer força novamente. Vomitei, tal como no parto da Mel. Desta vez não gritei tanto com o Mr. Right, mas gritei no parto, sim. Desta vez não me mandaram calar. Aliás, desta vez fiquei mesmo feliz com a equipa que me calhou. Só tenho a agradecer todo o carinho e profissionalismo com que aquelas enfermeiras e médica me trataram. Foram firmes quando tinham que o ser, mas também foram carinhosas e solidárias. Foram mulheres. Lembro-me de dizer que já não conseguia mais, estava mesmo muito cansada, mas disseram-me que estava quase. Lembro-me da médica se levantar do banco junto aos pés da minha cama e vir para o meu lado, dar-me a mão, encostar o rosto dela ao meu e contar comigo as contrações. Perdi a noção do tempo que se passou até que fiz toda a força que consegui e depois senti um alívio enorme. Às 15h22 disseram-nos "é um rapaz!" e eu olhei para o Mr. Right e ri. Estou a escrever isto e a chorar porque é realmente um dos momentos mais importantes da vida de uma mulher. De uma mãe. De um pai. De uma família. Nós não quisemos saber o sexo do bebé até ao parto e foi tão mais emocionante assim. Pedi que mo colocassem no meu peito assim que nascesse porque não tinha tido esse pele com pele com a Mel e era tudo o que mais queria. Assim o fizeram. Depois de um momento de namoro, o Mr. Right cortou o cordão umbilical. Nem pensei que isso fosse possível porque decidimos criopreservar as células estaminais e pensava que teria que ser a médica a fazê-lo. Fiquei feliz. Foi um momento bonito. Depois de sair a placenta prepararam-se para me suturar (fizeram-me uma episiotomia e, sinceramente, não sou nada contra). Demoraram imenso tempo a coser-me porque a médica estava a ensinar outra a fazê-lo mas acabou por ser bom porque foi super meticulosa e ficou top e eu aproveitei para descansar. O Mr. Right foi fumar um cigarro. Depois do parto senti muito, muito frio. Lembro-me como se fosse hoje. Uma das enfermeiras foi buscar as mantas quentes com que acolhem os bebés mal nascem e colocou-as em cima de mim para me aquecer. Saí da sala de partos para o recobro e o Marco estava ali ao meu lado, pequenino e bonitão. Tínhamos mais um bebé, caraças. E tinha nascido precisamente no dia de anos da irmã. Tirámos uma selfie e mandámos à família. 

Passado umas horas, o Mr. Right foi buscar a Mel à creche e foram visitar-nos. Estava tão ansiosa. Entrou no quarto, viu-me e correu até mim. Eu levantei-me, peguei nela ao colo e dei-lhe os parabéns. Disse-lhe que tínhamos uma prenda muito especial para ela. Disse-lhe que o maninho tinha nascido. Levei-a até ao berço do Marco e ficámos a vê-la admirá-lo. Peguei no Marco e ela cheirou-o e beijou-o. Pediu para pegar nele e nós deixámos. De repente, passámos a ser quatro. 

Rita

Marco pela lente de Contam'Estórias Fotofrafia

Outras coisas que podem querer ler:
O Parto da Mel - Parte 1 e Parte 2
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Entretanto, sê feliz como eu, entre fraldas e mojitos!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ser mãe de menino


Ser mãe de menino é apaixonar-se desde o primeiro dia. É passar a amar dois homens, em simultâneo, para toda a vida. Ser mãe de menino é lidar com chafarizes de xixi. É aprender que não podemos mudar fraldas no sofá ou na cama, sem correr riscos. Ser mãe de menino é muito mais que viver um mundo azul. É descobrir um universo de novas cores.
Ser mãe de menino é aprender o equilíbrio perfeito entre a força e a sensibilidade. É crescer a brincar às lutas e aos super heróis mas ensinar que também podemos chorar. Ser mãe de menino é aprender sobre uma parte do corpo que desconhecemos. Na verdade, é uma aprendizagem para o resto da vida.

Ser mãe de menino é apaixonar-se pelo mesmo rapazola todos os dias. É olhar para ele e imaginar quem será a sortuda - ou sortudo - que o irá conquistar. Ser mãe de menino é educar um futuro namorado, marido, e, possivelmente, pai. Um menino respeitador, justo, honesto e apaixonado. Ser mãe de menino é criar o príncipe encantado de alguém.

Rita