quinta-feira, 23 de julho de 2020

Falar da morte aos nossos filhos



- O teu avô está doente, não está?
- O meu avô estava doente, sim. E ontem morreu.
- Morreu?!
- Sim. Ele agora foi para o céu.
- Como o Rei Leão?
- Sim... tal como o Rei Leão.
- E agora o avô Pedro não vai ter pai?
- Claro que vai. O meu avô vai ser sempre pai do avô Pedro. Lembras-te quando o Rei Leão morreu? O Simba falava com o pai no céu.
- Então o avô Pedro vai falar com o pai dele no céu?
- Espero que sim.

Tive esta conversa com a Mel a semana passada. E assim, aos poucos, tento falar da morte a uma criança de 3 anos. Podia simplesmente ocultar-lhe que o bisavô morreu uma vez que não tinham contacto direto, mas acho importante que a Mel comece a aprender a lidar com a morte (de forma adequada para a idade). Estivemos a conversar e expliquei-lhe que as pessoas podem morrer quando têm um grande acidente, uma doença muito má ou quando estão muito velhinhas.

Mas nem sempre pensei/agi assim. Pouco depois da Mel fazer 2 anos, um dos nossos gatos morreu. Ela era muito próxima dele (tanto que já passaram quase dois anos e ainda fala nele). Na altura achámos que era muito pequenina para tentar explicar o que tinha acontecido, por isso dissemos que ele tinha ido fazer uma viagem. Quantos pais já não disseram isto aos filhos? O tempo foi passando, ela foi crescendo e penso que ela própria desconfia de algo porque já nos chegou a perguntar porque é que o Ziggy estava a demorar tanto a regressar ou quem é que cuidava dele ao longo de todo este tempo. Queremos arranjar o momento certo para lhe contarmos o que aconteceu... se é que existe momento certo.

Não posso deixar de pensar que, se ela vier a perder alguém muito especial nos próximos anos, eu não vou ser capaz de falar numa viagem. Mesmo que ela não perceba para já que a morte é definitiva, que não há retorno, eu vou querer que ela saiba o que aconteceu. A Mel tem cabeça e coração para isso. E nós estaremos por perto para a ajudar a lidar com os seus sentimentos. Acho que dizermos que alguém foi para o céu é uma boa escolha de palavras. Quantos adultos não confortam outros adultos nestes momentos dizendo que a pessoa estará a olhar por eles? Que está no céu, em paz?

Com o Marco é diferente, claro, ele ainda nem dois anos tem. E por isso é que acho completamente válido podermos mudar a nossa postura/ponto de vista ao longo do crescimento dos nossos filhos.

Para terminar, deixem-me dizer-vos que os filmes do Rei Leão e do Coco, ambos da Disney, acabam por ser uma ajuda nestas idades porque estabelecem paralelismo e ajudam-nos a conversar com eles sobre o que aconteceu. Recomendo a verem com os miúdos, estejam ou não a passar por algo semelhante. O Rei Leão é um clássico, o Coco é já dos tempos modernos mas um dos filmes de animação mais bonitos que já vi e com uma mensagem poderosa.

Com este post quero salientar que não há certo nem errado. Cada um guiar-se-á pelo que acredita (nós por exemplo somos ateus) e a escolha de cada família é válida. Se quiserem partilhar, gostava de saber se já tiveram que lidar com uma perda depois de serem pais e como conversaram com os vossos filhos sobre o sucedido (e que idade eles tinham) 


Beijos e mojitos,
Rita