- O teu avô está doente, não está?
- O
meu avô estava doente, sim. E ontem morreu.
-
Morreu?!
- Sim. Ele agora foi para o céu.
- Como o Rei Leão?
- Sim... tal como o Rei Leão.
- E agora o avô Pedro não vai ter pai?
- Claro que vai. O meu avô vai ser sempre pai do avô Pedro.
Lembras-te quando o Rei Leão morreu? O Simba falava com o pai no céu.
- Então o avô Pedro vai falar com o pai dele no céu?
- Espero que sim.
Tive esta conversa com a Mel a semana passada.
E assim, aos poucos, tento falar da morte a uma criança de 3 anos. Podia
simplesmente ocultar-lhe que o bisavô morreu uma vez que não tinham contacto
direto, mas acho importante que a Mel comece a aprender a lidar com a morte (de
forma adequada para a idade). Estivemos a conversar e expliquei-lhe que as
pessoas podem morrer quando têm um grande acidente, uma doença muito má ou
quando estão muito velhinhas.
Mas nem sempre pensei/agi assim. Pouco depois
da Mel fazer 2 anos, um dos nossos gatos morreu. Ela era muito próxima dele
(tanto que já passaram quase dois anos e ainda fala nele). Na altura achámos
que era muito pequenina para tentar explicar o que tinha acontecido, por isso
dissemos que ele tinha ido fazer uma viagem. Quantos pais já não disseram isto
aos filhos? O tempo foi passando, ela foi crescendo e penso que ela própria
desconfia de algo porque já nos chegou a perguntar porque é que o Ziggy estava
a demorar tanto a regressar ou quem é que cuidava dele ao longo de todo este
tempo. Queremos arranjar o momento certo para lhe contarmos o que aconteceu...
se é que existe momento certo.
Não posso deixar de pensar que, se ela vier a
perder alguém muito especial nos próximos anos, eu não vou ser capaz de falar
numa viagem. Mesmo que ela não perceba para já que a morte é definitiva, que
não há retorno, eu vou querer que ela saiba o que aconteceu. A Mel tem cabeça e
coração para isso. E nós estaremos por perto para a ajudar a lidar com os seus
sentimentos. Acho que dizermos que alguém foi para o céu é uma boa escolha de
palavras. Quantos adultos não confortam outros adultos nestes momentos dizendo
que a pessoa estará a olhar por eles? Que está no céu, em paz?
Com o Marco é diferente, claro, ele ainda nem
dois anos tem. E por isso é que acho completamente válido podermos mudar a
nossa postura/ponto de vista ao longo do crescimento dos nossos filhos.
Para terminar, deixem-me dizer-vos que os
filmes do Rei Leão e do Coco, ambos da Disney, acabam por ser uma ajuda nestas
idades porque estabelecem paralelismo e ajudam-nos a conversar com eles sobre o
que aconteceu. Recomendo a verem com os miúdos, estejam ou não a passar por
algo semelhante. O Rei Leão é um clássico, o Coco é já dos tempos modernos mas
um dos filmes de animação mais bonitos que já vi e com uma mensagem poderosa.
Com este post quero salientar que não há certo
nem errado. Cada um guiar-se-á pelo que acredita (nós por exemplo somos ateus)
e a escolha de cada família é válida. Se quiserem partilhar, gostava de saber
se já tiveram que lidar com uma perda depois de serem pais e como conversaram
com os vossos filhos sobre o sucedido (e que idade eles tinham) ❤
Beijos e mojitos,
Rita
Sem comentários:
Enviar um comentário